quarta-feira, 22 de junho de 2011

Brogodó

Quem já morou numa típica cidade do interior nordestino sabe o quanto toca no coração da gente quando vemos os personagens e suas aventuras na fictícia cidade de Brogodó. Eu tenho a minha Brogodó bem guardadinha no cantinho de minhas mais felizes lembranças! Vila de Cimbres e Pesqueira, cidades ligadas a minha mãe e seus parentes, são onde encontro as lembranças mais doces de minha infância! O cheiro da água do cacimbão, de onde trazíamos duas latas d'água de 20 litros, cada uma na ponta de um pau caído nos ombros! Pra mim que tinha lá meus 8 ou 9 anos era um peso danado, mas me sentia orgulhoso em poder ajudar minha vó "Mãe" Maria! Eu e meu primo Valter dávamos muitas viagens pra encher as jarras enormes de barro, não sem antes amarrar um pano bem limpinho pra coar as possíveis sujeiras! Como não me lembrar das jornadas acompanhando minha vó em direção das taperas onde as mulheres da Vila de Címbres lavavam roupas! Tomava tanto banho de rio que chega enjoava! Depois subia nos pés de manga e enchia o buxo dessa fruta deliciosa! Foi lá que aprendi a andar de cavalo e num único dia levei 4 quedas, a útima , por sinal , quase fiquei aleijado! Foi lá que conheci as quadrilhas juninas de verdade, não essas de hoje que mais parece um carnaval esquizofrênico! Foi lá que, na época de São João que via os decendentes dos índios Xucurús, que hoje tomam conta do lugar, dançarem com os pés descalços por cima das brasas quentes da grande fogueira que ficava em frente a igreja matriz. Aliás, Vila de Címbres nada mais era e é uma rua bem larga de forma ovalada de mais ou menos uns 700 metros com a igreja logo na entrada! No centro desse grande "ovo" tinha uma bolacha enorme de cimento onde brincávamos de bola de gude, carrinho de lata de óleo, ciranda e tudo mais que imaginássemos! Lá eu via de tudo! De vaqueiros paramentados com suas roupas de couro, até caixeiros viajantes com todas as bugigangas que iam de tecidos a panelas! Nas feiras era muito fácil encontrar poetas declamadores vendendo seus livrinhos de cordel que só fui começar a ler depois de alfabetizado, mas quando novo o que me impressionava mesmo eram os desenhos das capas com seus cangaceiros valentes e muitas outras personagens inspirados na vida real. Quem diria que muitos anos depois, já adulto e cinegrafista, tive o prazer de fazer um documentário com um dos maiores cordelistas do nordeste e do Brasil, J. Borges e que trabalha até hoje na cidade de Bezerros. Nessa minha infância deliciosa povoaram muitos outros personagens fantásticos como o profeta maluco, uma beata chata de bigodinho, o padre italiano que falava bem engraçado, o louco, os jagunços que todo mundo tinha medo, enfim tinha de tudo nessa minha querida "Brogodó"! Claro que diferentemente da novela, ninguém fala daquele jeito caricato, mas o que bate a saudade é a atmosfera deliciosa que lembra muito meu nordeste que tanto amo. Só quem já andou diversas vezes num carro-de-boi verdadeiro é que sabe do que estou falando! Aquele choro musical que as rodas faziam é inesquecível e, vez ou outra, embalam meus sonhos do passado!

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